quarta-feira, 30 de setembro de 2009

filosofando

Reflexões após uma aula um tanto chata na segunda série.

- Mãe, eu não queria falar português.
- Como assim, Arthur?
- Português é muito chato.
- Filho, é a língua do seu país, do seu povo.
- Que povo?
- Do Brasil.
- Não é nada. Português é a língua de Portugal.
- Pois é, mas aí os portugueses resolveram vir pra cá e deu nisso. Mas o português que a gente fala aqui no Brasil é bem diferente do deles. Algums palavras, alguns sons, a gente modificou, incluiu, excluiu...O idioma que a gente fala tem influência de vários outros, até de dialetos africanos.
- Mãe, tem algum país que fala língua de índio?
- Tem, Arthur. No Paraguai eles falam espanhol e guarani, que é a língua dos índios de lá.
- Eu queria que aqui no Brasil fosse igual no Paraguai. Não quero aprender português. Quero aprender língua de índio.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

compreensão

- Você fala essas coisas dela, de não saber o que quer, mas acho que você também não sabe bem o quer, não é?
- Quase nunca.
- Também tem dúvidas se deve aproveitar um pouco mais a vida antes de investir em uma relação que possa durar de verdade.
- É verdade. Não sei se caso ou compro uma bicicleta.
- Mas a gente não está com pressa, não é?
- Sim. Sem pressa e com o mínimo de expectativas possíveis. Deixa ser que tem sido muito bom.
- Então vai vivendo. A gente vai se vendo, se conhecendo, se gostando, até você pensar melhor sobre essa coisa da bicicleta.


Ah essa tal maturidade... um dia ainda há de me bater à porta.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

empurrõezinhos

- Sabe, tenho me descoberto uma grande covarde.
- Por quê?
- Porque a verdade é que eu só me abro pro que sei ser imposssível e quando as coisas parecem poder dar certo, eu vou desistindo antes mesmo de começar. Eu me saboto.
- É estranho isso, mas recorrente. Muita gente só se permite envolver em situações que está na cara que não vão dar certo. Mas agora, qual seria o problema? Ela é um partidão.
- Eu sei. Ao menos parece ser.
- Tem sido bom?
- Tem. Mas acho que posso ter assustado ela um pouco.
- Assustado como?
- Algumas coisas que eu já fiz, algumas idéias que eu tenho, costumam assustar as pessoas que não me conhecem.
- Você não precisa sair contando sua vida toda em dois dias também, né?
- Mas eu falo. Você sabe que eu falo. E se me perguntam, eu falo mais ainda. E se acho que tem certas coisas que não devem ser omitidas, eu conto. Tem espaços e situações que é bom deixar claros logo no princípio. Mesmo que não dure, porque a gente sempre corre o risco de durar mais do que se imagina.
- Mas não esquece que o segredo é não criar expectativas.
- Tenho tentado.
- Eu acho que você deveria investir. Pode ser uma boa e certamente é um bom momento.
- Não sei se é um bom momento pra alguém se envolver comigo.
- Olha você se sabotando novamente. Por que não seria?
- Porque eu me apaixonei, amigo. Porque eu sei que não vai adiante, porque eu já tenho claro pra mim que eu não quero isso, porque é uma pena, mas ela não me vale a pena...mas mesmo com tudo isso, eu sei que ainda me derreto com aquele sorriso.
- Passe a se derreter com outro. Vai, você consegue.
- Só não quero me precipitar. Preciso deixar as coisas acontecerem naturalmente.
- Então deixa. E aprende a filtrar as coisas que você fala. Vai com calma, que tudo dá certo.
- Tentarei.
- Eu sei que as coisas parecem se atropelar, as vezes. Mas acho que você já deveria ter se acostumado com isso. Na fase das calmarias, você sofreu de solidão. Agora aguenta o tranco. Não foi isso que você quis?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

vai saber [2]

- Me disseram o quê você decidiu, mas eu preciso que você me diga tudo.
- Eu acho que eu também te amo. Isso seria possível?
- Eu não sei.
- Quero que você vá embora, mas não consigo te pedir isso.
- Por quê?
- Porque eu sei que posso estar a quilômetros de distância que você vai continuar aqui dentro.
- Eu posso sumir por um tempo, se você quiser...
- Eu não quero.
- Talvez algumas idéias mudem se a gente conversar com mais calma.
- Eu amo isso em você?
- Isso o quê?
- De transformar em calmaria a tormenta que está aqui dentro.
- É melhor assim, não?
- Se você fosse menos compreensivo, se fosse menos tranquilo, se tivesse metade da insegurança que eu carrego, seria tudo muito mais fácil.
- Eu já vivi um bocado pra entender as coisas desse jeito.
- Se você não fosse tão....
- Você se apaixonou, não foi?
- Eu não sei. Não sei de mais nada.
- O que você sente?
- Uma vontade enorme de abraçar os dois, ao mesmo tempo, e dormir com esse cheiro, com esse carinho. Mas isso é um sonho, uma utopia. Nunca daria certo.
- Quantos relacionamentos você já teve? Quantos deles você realmente acreditou que iriam dar certo? Quantos deram?


E esse eterno abismo entre tudo que se pensa e se sente.

sábado, 12 de setembro de 2009

porque se fosse fácil...

- Camilinha, dessa vez você apelou. Nem os seus amigos sabem direito o que te recomendar.
- Pois é. E eu tô completamente desnorteada, naqueles momentos em que tudo que eu quero é um colo de um dos meus meninos, uma cerveja gelada e um conselho desses que me faz pensar bastante e resolver o que fazer no meio dessa confusão toda.
- É muita informação em muito pouco tempo, gatinha. Tá difícil pra mim te dizer o que eu faria. Ou melhor: o que eu acho certo você fazer. Porque tem uma distância nisso aí.
- Eu sempre tenho problemas com isso.
- Isso o quê?
- Isso da distancia entre o que a gente sabe que é certo e o que a gente realmente sente que quer fazer.
- E o que você quer dessa vez?
- Quero que essa confusão termine o mais rápido possível, apesar de saber que não vai ser rápido assim; quero que terminando, eu possa viver o que tô sentindo, porque só eu sei o quanto demorou pra isso acontecer e o quanto me faz bem me sentir assim.
- Eu fiquei bem feliz de saber que alguém te balançou de verdade dessa vez. Porque até agora era pura cisma sua. Metia nessa cabeça dura que queria fulana e um tempinho depois, lá estava você e fulana de beijinhos e abraços. Sempre me assusto com a velocidade com que você conquista essas coisas. E como que as situações se apresentam na sua frente, sem você ter que se mexer muito.
- Pois é, as coisas costumam acontecer assim mesmo comigo.
- Sempre soube que você gosta de uma dificuldade, mas dessa vez você apelou, né?
- É.
- Não podia ser um probleminha só, não? Tinha que ser logo uma puta confusão?
- Eu não escolhi isso.
- Mas sabia que poderia acontecer.
- Sabia.
- E não tomou cuidado.
- Tomei sim senhor. Tava segurando muito bem minha onda. Mas pára ela na sua frente e ouve ela dizer as coisas que me disse aquele dia. Até você entregaria os pontos, meu amigo. Até você.
- É...porque dessa vez você apelou em tudo também, né? É a mulher mais linda que eu já vi contigo. E que voz, hein?! Que sorriso! Te confesso que não acreditei muito que você tava com ela não. Só tive certeza quando vi beijar. Aliás, fui embora exatamente nessa hora.
- Acho que meu mundo começou a virar de cabeça pra baixo exatamente nessa hora.
- É bom que o mundo vire, não?
- É ótimo. É muito bom sentir esse frio na barriga. É muito bom se apaixonar, amigo. Eu já não me lembrava muito bem como isso é.
- Sabe, acho que mesmo que não dê certo pra você, já te valeu bastante. Só de ver esse sorriso no seu rosto, já gosto dela. Vou torcer pra que dê certo.
- Eu também.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

porque é

- Me leva com você.
- Pra onde?
- Pra onde você for.
- Não posso.
- Por quê?
- Porque eu não sei onde isso fica. Pode ser perigoso.
- Não tenho medo desses perigos.
- Mas eu tenho. Por mim e por você.
- Eu tô dizendo que não quero te deixar. Quero ter sempre esse ombro. Quero te ter sempre no meu colo. Você não quer?
- As coisas que eu quero costumam ser o avesso do que me acontece.
- Eu costumo conseguir tudo que eu quero. E eu quero estar pra sempre ao lado dessa pessoa que me faz tão bem.
- Sabe o que é? É que eu não sou sempre a mesma pessoa e "pra sempre" é um tempo que nunca se sabe quando.
- Eu amo você.
- Eu sei.

"Quando me pergunto
Se você existe mesmo, amor
Entro logo em órbita
No espaço de mim mesmo, amor

Será que por acaso
A flor sabe que é flor
E a estrela Vênus
Sabe ao menos
Porque brilha mais bonita, amor

O astronauta ao menos
Viu que a Terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor

Mas você, sei lá
Você é uma mulher, sim
Você é linda porque é"

(Vinicius de Moraes)

sábado, 5 de setembro de 2009

hora do lanche

- Tenho me preocupado com isso.
- Por quê?
- Porque eu sempre levei numa boa, nunca me reprimi com essas coisas. Pra mim sempre foi normal. "Tá solteira? Deu vontade? Fica."
- Mas isso é normal, não?
- Nem todo mundo acha, né?
- Mas você não tem que se preocupar com todo mundo.
- Nunca me preocupei. Mas dessa vez foi um amigo falando. Um cara que, querendo ou não, tem quase sempre razão no que diz e muitas vezes me antecipou as coisas que eu me neguei a ver.
- Tudo bem. Mas no que isso muda sua vida?
- Muda que se as pessoas pensarem isso mesmo de mim, ninguém realmente interessante vai se aproximar, não acha?
- Não.
- Como não?
- Você é interessante, Camilinha. É inteligente, batalha, tem um papo bacana, é legal com as pessoas, tem seu charminho que muita gente não resiste...relaxa, amiga. Até porque, te volto a pergunta que nosso amigo te fez: você quer ter uma pesssoa ao seu lado pro resto da sua vida?
- Não fala assim que o ego cresce....rsrsrsrs. Mas na verdade, o questionamento é esse. Eu não sei se eu quero uma pessoa que fique do meu lado pro resto da vida. Me acho nova ainda pra isso.
- Então curte, menina. Sem grilos. Curte sua vida, sai com quem você quiser, quando você quiser. Ninguém tem nada com isso.
- Por que eu deveria querer alguém pro resto da vida? E se eu achar que posso ter essa pessoa, ou essas pessoas, sem estar o tempo todo ao lado delas?
- Como assim?
- Eu acho que já tenho pessoas que são pro resto da vida. Acho que as pessoas que realmente me marcaram, que me fizeram ver o mundo de outro jeito, pessoas pelas quais eu realmente me apaixonei, pra mim, elas são pra toda a vida. Eu carrego elas comigo pra qualquer lugar. E ainda tem espaço pra que algumas outras apareçam. Tem sentimentos que não morrem, a gente só abre mão deles num determinado momento, quando vê que só um sentimento não sustenta uma relação. Dá pra entender?
- Mais ou menos.
- Eu quero fazer parte de verdade da vida das pessoas que fazem diferença pra mim. É isso. Acho que tem muita gente interessante no mundo pra determinar uma única pessoa que me acompanhe, entende?
- Eu ainda acho que você vai casar trinta vezes. Mas se bobear, não vai casar nunca.
- Já pensei muito em casar. Mas não vejo casamento como um compromisso eterno. Quando isso acontecer, vai durar o que tiver que durar. É muito difícil entender que eu pense assim?
- Não.
- Você me acha uma devassa por isso?
- Não. Você se acha?
- Não.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

vai saber

- Mas me conta isso direito. O que aconteceu?
- Aconteceu que eu percebi que não dá. Não cabe. Não me cabe nela, na vida dela.
- Já tinha quanto tempo?
- Quatro meses.
- Me surpreende, porque pelas últimas notícias vocês estavam bem.
- Sim, muito bem.
- Te conhecendo como eu conheço, alguma coisa te fez desencantar.
- É...foi quase isso.
- Algo que não tivese como ser resolvido. Esclarecido. Contornado.
- Exatamente.
- Já pensou que pode ter sido um desabafo por outros motivos? Daí ela bateu logo na tecla que sabia que você não ia recuar?
- Já. Mas ainda prefiro acreditar que as pessoa não façam "joguinhos" comigo. Como eu não faço com elas.
- Mas tem gente que não sabe ser assim. Que não sabe falar direito o que sente, o que quer, porque na maioria das vezes não sabe muito bem o que sente ou o que quer, entende?
- Uhum. Só me sobra lamentar.
- O quê você lamenta?
- O desencontro.
- Valeu a pena?
- Muito. Acho até que deu certo. Deu certo no que tinha que dar. Queria poder ter ajudado mais em certos aspectos, mas acho que fiz bem a ela e ela certamente me fez bem.
- E é isso que importa, não?
- Sim. É isso que importa.