domingo, 27 de dezembro de 2009

saudades futuras

-Pô... e eu me lembro de quando vocês namoravam...você ficava querendo que ela fosse lá e ela não ia...evitava entrar, te esperava no carro....pra agora ficar indo lá toda semana. Já é nessa rua?
- Não..mais pra frente. Pois é, amigo. Mulher é assim mesmo...depois que perde...
- É...sei bem.
- Mas já não me faz diferença. Seria uma baita babaquice se eu ainda fosse afim dela...mas acontece que eu não sou. Eu acabei ficando muito melhor do que imaginava. Não troco o que eu tenho hoje por nada.
- É. Eu sei. É nessa rua?
- Não. Na próxima. Enfim... deixa pra lá...deixa ir, deixa perder comanda, deixa ficar bêbada até passar mal, deixa achar que eu sou alguém mais apresentável agora, que não sou mais a garçonete. Pelo menos a partir de hoje, né?
- É...vou sentir saudades de você.
- Eu também. Muitas.
- Vai ser tenso ficar lá sem ter com quem fazer os comentários chulos que eu faço. Sem ter com quem rir quando o clima tá pesado...
- Imagina se no banco eu vou trabalhar ao lado de alguém que repara no sapato das mulheres que entram lá? Também vou sentir muito sua falta.
- Vou beber aquela garrafa de tequila toda em sua homenagem .
- Já tá chegando...Beba. Eu vou estar aqui torcendo por você, mas na banheira de um motel, se tudo der certo....rsrsrrsrs
- Tá vendo. Quem que vai parar do meu lado pra ficar falando essas besteiras?
- Pára...que já tá me dando vontade de chorar.
- Não esquece de mim, viu?
- Nunca. E vou te ajudar sempre que puder. Você merece. Vê se cria juízo e vai correr atrás das suas coisas. Não se acomoda.
- Eu não sei nada do que vai me acontecer em 2010. Mas vou pensar mais nessas coisas.
- Pense. E lembre de mim. E se prepara pra pedir uma folga depois do carnaval..início de março, depois que sair meu salário...você vai posar de patrão no Rio de Janeiro....rsrsrsr
- Já é aqui?
- É sim.
- Ela tá aí?
- Não. Vou fazer uma surpresa. Vai me encontar dormindo quando chegar.
- Você é foda, mulher! Te amo!
- Eu também. Te vejo amanhã.
- Me liga.
- Assim que acordar.

verdades

- Olha, eu te deixei vir até aqui pra poder te falar algumas coisas.
- Ham?
- Primeiro: queria muito que você conseguisse entender que pessoas não são melhores ou piores por suas orientações sexuais. Queria que você conseguisse ver que não existe um problema nisso. Olha ao seu redor. São todas minhas amigas. AMIGAS. Pessoas felizes, que saem, bebem, se divertem, tem amigos, beijam na boca e vão tomar café na padaria no dia seguinte de manhã. Sem que haja nenhum problema. Percebe?
- Você não vai ficar me dando lição de moral a essa hora da manhã, né?
- Não. Mas você vai ficar quietinha, me ouvindo. Porque até discutir com cliente por sua causa eu fiz hoje. E olha que já faz tempo que a gente não tem nada.
- Tá...
- Segundo: Eu queria que você soubesse que ninguém aqui tem paciência pros seus joguinhos, pros seus flertes forjados, pros seus momentos de "pagar de hetero" pras suas amiguinhas que fingem que não sabem que você é gay. Aqui, todo mundo sabe que você é gay. Todo mundo sabe quem você é. Então não força isso mais. Não na nosa frente. Porque sempre que você fizer uma cena dessas, você vai sobrar. E daqui pra frente eu não vou estar aqui pra ir atras e dizer pra você ficar. Pra dizer que você pode estar entre a gente. Me entendeu?
- Uhum.
- Melhor assim. Eu também quero que você fique bem.


Porquê tem horas que as circunstâncias te levam ao ápice da sinceridade.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

não adianta se preparar

"Ele sempre vai te pegar de surpresa"

- Mãe, o que é sexo?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

coisas que só ele

- Mãe, eu quero parar de comer carne vermelha, você deixa?
- Por quê, Arthur?
- Porque carne vermelha faz mal.
- Bom...se você continuar a comer carne branca e se alimentar bem, acho que não tem problema.
- Mãe, você sabia que eles dão uma injeção pro boi ficar gordo e essa injeção faz muito mal pra gente?
- Filho, eles fazem várias coisas com o boi, com o frango...mas a gente não tem muito como fugir disso.
- Sabe o que acontece? É que existe muita gente gananciosa no mundo. Eles querem ganhar muito dinheiro e nem ligam se o boi vai sofrer, se vai fazer mal pros outros. Mas quando eu tiver a minha fazenda, nem que um homem fale assim: 'Eu te dou cem reais pra você dar uma injeção no seu boi', eu não vou deixar. Quando eu tiver uma fazenda, meus bois vão ser os maridos das vacas e a gente só vai tirar o leite delas.
- Mas nem um churrasquinho, Arthur?

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

a gema

Uma mesa de bar, uma hora e meia pra entrar no trabalho, uma cidade sem luz, uma amiga e uma amiga da amiga.

- Mas e aí, Camilinha? Como que estão as coisas? Quem é essa figura que você ligou às seis horas da manhã, naquele estado? rsrsrsrs
- É amiga... é uma pessoa aí. Você não conhece não. Ela não é daqui.
- Sério? Mas tá bacana? Onde você conheceu?
- No Muzik. Sentou lá um dia e disse que só ia embora quando fechasse.
- Como assim?
- Ah, rolaram uns olhares, umas piadinhas - você sabe que eu não me controlo com piadinhas. Daí, na semana seguinte, ela apareceu lá sozinha, às três da manhã. Sentou no balcão na minha frente e disse que só ia embora quando terminasse.
- Affe. Se deu bem então, hein?
- Tenho me dado. rsrsrsrs
- Eh...ela chegou sozinha, mas parece que saiu de lá acompanhada, né?
- Tem estado acompanhada nas últimas três semanas, na verdade.
- Mas e aí? Saiu de onde essa pessoa?
- Então...ela é de BH, veio pra cá faze residência, tem 33 anos, pô...sei lá. É uma pessoa legal, muito legal e que tem me feito bem, muito bem.
- Que bom amiga, já não era sem tempo.
- Eu tinha esquecido como é bom sentir que alguém gosta da gente.
- Melhor ainda se é uma pessoa bacana.
- Eu dou umas sortes, né? Não é alguém que se encontra por aí, em qualquer lugar. Ela fala baixinho, tem um sorriso calmo, me deixa tranquila. Sabe alguém que te desacelera? Tenho estado bem feliz nos últimos dias.
(Terceiro elemento se manifesta)
- Ei...eu sei de quem você tá falando! Você trabalha no Muzik, ela é amiga do Cassimiro...
- É amiga... é a gema.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

filosofando

Reflexões após uma aula um tanto chata na segunda série.

- Mãe, eu não queria falar português.
- Como assim, Arthur?
- Português é muito chato.
- Filho, é a língua do seu país, do seu povo.
- Que povo?
- Do Brasil.
- Não é nada. Português é a língua de Portugal.
- Pois é, mas aí os portugueses resolveram vir pra cá e deu nisso. Mas o português que a gente fala aqui no Brasil é bem diferente do deles. Algums palavras, alguns sons, a gente modificou, incluiu, excluiu...O idioma que a gente fala tem influência de vários outros, até de dialetos africanos.
- Mãe, tem algum país que fala língua de índio?
- Tem, Arthur. No Paraguai eles falam espanhol e guarani, que é a língua dos índios de lá.
- Eu queria que aqui no Brasil fosse igual no Paraguai. Não quero aprender português. Quero aprender língua de índio.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

compreensão

- Você fala essas coisas dela, de não saber o que quer, mas acho que você também não sabe bem o quer, não é?
- Quase nunca.
- Também tem dúvidas se deve aproveitar um pouco mais a vida antes de investir em uma relação que possa durar de verdade.
- É verdade. Não sei se caso ou compro uma bicicleta.
- Mas a gente não está com pressa, não é?
- Sim. Sem pressa e com o mínimo de expectativas possíveis. Deixa ser que tem sido muito bom.
- Então vai vivendo. A gente vai se vendo, se conhecendo, se gostando, até você pensar melhor sobre essa coisa da bicicleta.


Ah essa tal maturidade... um dia ainda há de me bater à porta.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

empurrõezinhos

- Sabe, tenho me descoberto uma grande covarde.
- Por quê?
- Porque a verdade é que eu só me abro pro que sei ser imposssível e quando as coisas parecem poder dar certo, eu vou desistindo antes mesmo de começar. Eu me saboto.
- É estranho isso, mas recorrente. Muita gente só se permite envolver em situações que está na cara que não vão dar certo. Mas agora, qual seria o problema? Ela é um partidão.
- Eu sei. Ao menos parece ser.
- Tem sido bom?
- Tem. Mas acho que posso ter assustado ela um pouco.
- Assustado como?
- Algumas coisas que eu já fiz, algumas idéias que eu tenho, costumam assustar as pessoas que não me conhecem.
- Você não precisa sair contando sua vida toda em dois dias também, né?
- Mas eu falo. Você sabe que eu falo. E se me perguntam, eu falo mais ainda. E se acho que tem certas coisas que não devem ser omitidas, eu conto. Tem espaços e situações que é bom deixar claros logo no princípio. Mesmo que não dure, porque a gente sempre corre o risco de durar mais do que se imagina.
- Mas não esquece que o segredo é não criar expectativas.
- Tenho tentado.
- Eu acho que você deveria investir. Pode ser uma boa e certamente é um bom momento.
- Não sei se é um bom momento pra alguém se envolver comigo.
- Olha você se sabotando novamente. Por que não seria?
- Porque eu me apaixonei, amigo. Porque eu sei que não vai adiante, porque eu já tenho claro pra mim que eu não quero isso, porque é uma pena, mas ela não me vale a pena...mas mesmo com tudo isso, eu sei que ainda me derreto com aquele sorriso.
- Passe a se derreter com outro. Vai, você consegue.
- Só não quero me precipitar. Preciso deixar as coisas acontecerem naturalmente.
- Então deixa. E aprende a filtrar as coisas que você fala. Vai com calma, que tudo dá certo.
- Tentarei.
- Eu sei que as coisas parecem se atropelar, as vezes. Mas acho que você já deveria ter se acostumado com isso. Na fase das calmarias, você sofreu de solidão. Agora aguenta o tranco. Não foi isso que você quis?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

vai saber [2]

- Me disseram o quê você decidiu, mas eu preciso que você me diga tudo.
- Eu acho que eu também te amo. Isso seria possível?
- Eu não sei.
- Quero que você vá embora, mas não consigo te pedir isso.
- Por quê?
- Porque eu sei que posso estar a quilômetros de distância que você vai continuar aqui dentro.
- Eu posso sumir por um tempo, se você quiser...
- Eu não quero.
- Talvez algumas idéias mudem se a gente conversar com mais calma.
- Eu amo isso em você?
- Isso o quê?
- De transformar em calmaria a tormenta que está aqui dentro.
- É melhor assim, não?
- Se você fosse menos compreensivo, se fosse menos tranquilo, se tivesse metade da insegurança que eu carrego, seria tudo muito mais fácil.
- Eu já vivi um bocado pra entender as coisas desse jeito.
- Se você não fosse tão....
- Você se apaixonou, não foi?
- Eu não sei. Não sei de mais nada.
- O que você sente?
- Uma vontade enorme de abraçar os dois, ao mesmo tempo, e dormir com esse cheiro, com esse carinho. Mas isso é um sonho, uma utopia. Nunca daria certo.
- Quantos relacionamentos você já teve? Quantos deles você realmente acreditou que iriam dar certo? Quantos deram?


E esse eterno abismo entre tudo que se pensa e se sente.

sábado, 12 de setembro de 2009

porque se fosse fácil...

- Camilinha, dessa vez você apelou. Nem os seus amigos sabem direito o que te recomendar.
- Pois é. E eu tô completamente desnorteada, naqueles momentos em que tudo que eu quero é um colo de um dos meus meninos, uma cerveja gelada e um conselho desses que me faz pensar bastante e resolver o que fazer no meio dessa confusão toda.
- É muita informação em muito pouco tempo, gatinha. Tá difícil pra mim te dizer o que eu faria. Ou melhor: o que eu acho certo você fazer. Porque tem uma distância nisso aí.
- Eu sempre tenho problemas com isso.
- Isso o quê?
- Isso da distancia entre o que a gente sabe que é certo e o que a gente realmente sente que quer fazer.
- E o que você quer dessa vez?
- Quero que essa confusão termine o mais rápido possível, apesar de saber que não vai ser rápido assim; quero que terminando, eu possa viver o que tô sentindo, porque só eu sei o quanto demorou pra isso acontecer e o quanto me faz bem me sentir assim.
- Eu fiquei bem feliz de saber que alguém te balançou de verdade dessa vez. Porque até agora era pura cisma sua. Metia nessa cabeça dura que queria fulana e um tempinho depois, lá estava você e fulana de beijinhos e abraços. Sempre me assusto com a velocidade com que você conquista essas coisas. E como que as situações se apresentam na sua frente, sem você ter que se mexer muito.
- Pois é, as coisas costumam acontecer assim mesmo comigo.
- Sempre soube que você gosta de uma dificuldade, mas dessa vez você apelou, né?
- É.
- Não podia ser um probleminha só, não? Tinha que ser logo uma puta confusão?
- Eu não escolhi isso.
- Mas sabia que poderia acontecer.
- Sabia.
- E não tomou cuidado.
- Tomei sim senhor. Tava segurando muito bem minha onda. Mas pára ela na sua frente e ouve ela dizer as coisas que me disse aquele dia. Até você entregaria os pontos, meu amigo. Até você.
- É...porque dessa vez você apelou em tudo também, né? É a mulher mais linda que eu já vi contigo. E que voz, hein?! Que sorriso! Te confesso que não acreditei muito que você tava com ela não. Só tive certeza quando vi beijar. Aliás, fui embora exatamente nessa hora.
- Acho que meu mundo começou a virar de cabeça pra baixo exatamente nessa hora.
- É bom que o mundo vire, não?
- É ótimo. É muito bom sentir esse frio na barriga. É muito bom se apaixonar, amigo. Eu já não me lembrava muito bem como isso é.
- Sabe, acho que mesmo que não dê certo pra você, já te valeu bastante. Só de ver esse sorriso no seu rosto, já gosto dela. Vou torcer pra que dê certo.
- Eu também.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

porque é

- Me leva com você.
- Pra onde?
- Pra onde você for.
- Não posso.
- Por quê?
- Porque eu não sei onde isso fica. Pode ser perigoso.
- Não tenho medo desses perigos.
- Mas eu tenho. Por mim e por você.
- Eu tô dizendo que não quero te deixar. Quero ter sempre esse ombro. Quero te ter sempre no meu colo. Você não quer?
- As coisas que eu quero costumam ser o avesso do que me acontece.
- Eu costumo conseguir tudo que eu quero. E eu quero estar pra sempre ao lado dessa pessoa que me faz tão bem.
- Sabe o que é? É que eu não sou sempre a mesma pessoa e "pra sempre" é um tempo que nunca se sabe quando.
- Eu amo você.
- Eu sei.

"Quando me pergunto
Se você existe mesmo, amor
Entro logo em órbita
No espaço de mim mesmo, amor

Será que por acaso
A flor sabe que é flor
E a estrela Vênus
Sabe ao menos
Porque brilha mais bonita, amor

O astronauta ao menos
Viu que a Terra é toda azul, amor
Isso é bom saber
Porque é bom morar no azul, amor

Mas você, sei lá
Você é uma mulher, sim
Você é linda porque é"

(Vinicius de Moraes)

sábado, 5 de setembro de 2009

hora do lanche

- Tenho me preocupado com isso.
- Por quê?
- Porque eu sempre levei numa boa, nunca me reprimi com essas coisas. Pra mim sempre foi normal. "Tá solteira? Deu vontade? Fica."
- Mas isso é normal, não?
- Nem todo mundo acha, né?
- Mas você não tem que se preocupar com todo mundo.
- Nunca me preocupei. Mas dessa vez foi um amigo falando. Um cara que, querendo ou não, tem quase sempre razão no que diz e muitas vezes me antecipou as coisas que eu me neguei a ver.
- Tudo bem. Mas no que isso muda sua vida?
- Muda que se as pessoas pensarem isso mesmo de mim, ninguém realmente interessante vai se aproximar, não acha?
- Não.
- Como não?
- Você é interessante, Camilinha. É inteligente, batalha, tem um papo bacana, é legal com as pessoas, tem seu charminho que muita gente não resiste...relaxa, amiga. Até porque, te volto a pergunta que nosso amigo te fez: você quer ter uma pesssoa ao seu lado pro resto da sua vida?
- Não fala assim que o ego cresce....rsrsrsrs. Mas na verdade, o questionamento é esse. Eu não sei se eu quero uma pessoa que fique do meu lado pro resto da vida. Me acho nova ainda pra isso.
- Então curte, menina. Sem grilos. Curte sua vida, sai com quem você quiser, quando você quiser. Ninguém tem nada com isso.
- Por que eu deveria querer alguém pro resto da vida? E se eu achar que posso ter essa pessoa, ou essas pessoas, sem estar o tempo todo ao lado delas?
- Como assim?
- Eu acho que já tenho pessoas que são pro resto da vida. Acho que as pessoas que realmente me marcaram, que me fizeram ver o mundo de outro jeito, pessoas pelas quais eu realmente me apaixonei, pra mim, elas são pra toda a vida. Eu carrego elas comigo pra qualquer lugar. E ainda tem espaço pra que algumas outras apareçam. Tem sentimentos que não morrem, a gente só abre mão deles num determinado momento, quando vê que só um sentimento não sustenta uma relação. Dá pra entender?
- Mais ou menos.
- Eu quero fazer parte de verdade da vida das pessoas que fazem diferença pra mim. É isso. Acho que tem muita gente interessante no mundo pra determinar uma única pessoa que me acompanhe, entende?
- Eu ainda acho que você vai casar trinta vezes. Mas se bobear, não vai casar nunca.
- Já pensei muito em casar. Mas não vejo casamento como um compromisso eterno. Quando isso acontecer, vai durar o que tiver que durar. É muito difícil entender que eu pense assim?
- Não.
- Você me acha uma devassa por isso?
- Não. Você se acha?
- Não.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

vai saber

- Mas me conta isso direito. O que aconteceu?
- Aconteceu que eu percebi que não dá. Não cabe. Não me cabe nela, na vida dela.
- Já tinha quanto tempo?
- Quatro meses.
- Me surpreende, porque pelas últimas notícias vocês estavam bem.
- Sim, muito bem.
- Te conhecendo como eu conheço, alguma coisa te fez desencantar.
- É...foi quase isso.
- Algo que não tivese como ser resolvido. Esclarecido. Contornado.
- Exatamente.
- Já pensou que pode ter sido um desabafo por outros motivos? Daí ela bateu logo na tecla que sabia que você não ia recuar?
- Já. Mas ainda prefiro acreditar que as pessoa não façam "joguinhos" comigo. Como eu não faço com elas.
- Mas tem gente que não sabe ser assim. Que não sabe falar direito o que sente, o que quer, porque na maioria das vezes não sabe muito bem o que sente ou o que quer, entende?
- Uhum. Só me sobra lamentar.
- O quê você lamenta?
- O desencontro.
- Valeu a pena?
- Muito. Acho até que deu certo. Deu certo no que tinha que dar. Queria poder ter ajudado mais em certos aspectos, mas acho que fiz bem a ela e ela certamente me fez bem.
- E é isso que importa, não?
- Sim. É isso que importa.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

porque a gente se diverte

- Olá! Você quer beber alguma coisa?
- Oi. Me dá uma cerveja?
- Aqui.
- E seu telefone?
- Aí eu vou ficar te devendo.
- Pô, me dá seu telefone.
- Não.
- Por quê? Você tem namorado?
- Não. Tenho namorada.
- Ah..mas eu aposto que ela é chata.
- Não.
- Aposto então que ela não é bonita que nem eu.
- É mais bonita.
- Mas ela te trata bem? É inteligente?
- Gato, ela é linda, inteligente, bacana, divertida. Pra te falar a verdade, eu ainda tô procurando o defeito dela.
- Qual o telefone da sua namorada?


Gosto muito de quem pensa rápido. Thiago ganhou companhia pra bate-papo no balcão.

sábado, 25 de julho de 2009

Um balcão sem Jaqueline

- Oi.
- Oi.
- Tudo bem?
- Uhum.
- Você não é daqui, né?
- Não. Sou do Rio.
- Me falaram que você é de Minas.
- É que eu sou do Rio, mas moro em Juiz de Fora.
- Ah...sim. Pô, não é em Juiz de Fora que tem uma parada gay grande?
- É sim. É a maior parada de cidade de interior do país. Ou pelo menos era quando eu trabalhava.
- Você trabalhava na parada?
- Trabalhei três anos.
- Eu conheço um menino que trabalhava na parada gay de lá também: Brucce. Conhece?
- (rsrsrss) Conheço sim. A gente meio que trabalha junto novamente. Ele é promoter de uma das noites do bar que eu trabalho.
- Mundo pequeno, hein, gata?
- Pois é. E olha que estamos na maior cidade do país.
- O mundo é um ovo.
- E Juiz de Fora é a gema do ovo de codorna.
- Você é amiga da minha amiga, não é?
- Uhum.
- Vocês estão juntas?
- Não. É minha amiga mesmo.
- Pô, você é bem gatinha. Por que não beijou ninguém até agora?
- Pra evitar a gripe suína.

Isso que se cala

- Bom dia, Flor.
- Bom dia, chuchu. Tá melhor?
- Uhum.
- Vem aqui, me dá um abraço.
- Às vezes eu fico assim. Não liga não.
- Tudo bem. Só prefiro te ver bem.
- Eu vou ficar bem. A gente sempre fica, né? Quer um lanhe?
- Sim. Às vezes demora mais, outras demora menos, mas a gente sempre fica.
- É melhor pra mim assim. Tava tudo errado. É coisa demais indo contra e a gente teimando em dar braçada contra a maré.
- O que é fácil não tem graça.
- Mas o que se torna difícil demais vira masoquismo. E antes dele eu tava bem, sabe? Gosto dela.
- Ela gosta bastante de você.
- Eu sei. E por isso é melhor pra ela não continuar. Eu gosto, mas não tenho como dar tudo que ela merece e tudo que ela espera de alguém pra estar ao lado dela.
- É engraçado como as situações podem ser super diferentes, em lugares diferentes, com pessoas que nem imaginam a existência de terceiras e a conversa cair nas mesmas questões.
- É tudo que a gente faz pra tentar ser feliz, não é?
- E aí, vale mais a pena ter alguém que te ama e de quem você gosta ou largar tudo pra viver uma paixão que saiu não sei de onde?
- Vale mais a pena ficar com alguém de quem você gosta muito, mas que não te retribui isso como você gostaria ou seguir adiante esperando alguém que se apaixone tanto quanto você?
- Ela tem vinte anos mais que eu e as nossas idéias são bem parecidas. Confesso que acho bem razoável a postura dela.
- Eu também. Até porque, gosto dela demais. Você tem visto isso. A gente continua se vendo. Pode ser meio estranho às vezes, mas eu quero ela por perto ainda.
- Mas será que te ter por perto faz bem pra ela?
- Não sei.
- Acho bem bacana a relação de vocês. Se conseguirem levar isso dessa forma, acho que chegaram bem perto da perfeição.
- Pra mim não tá nada perfeito agora.
- Você vai ficar bem. A gente sempre fica.
- Não quero voltar pra ela, mas gostaria que ela estivesse aqui agora. Café ou mate?
- Mate.


"Somos eso que se calla, lo que se niega; la sumisión y la osadía mezclados en el mismo bolso; intercambio de papeles y acuerdos no pactados. Somos, con todo esto, los poetas anónimos de nuestras historias."

quarta-feira, 22 de julho de 2009

investimentos

- Oi, amiga.
- Oi, meu anjo.
- Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Voltei pra ela, Camilinha.
- Rsrsrs. Você sempre volta, né?
- Mas dessa vez é diferente. Eu resolvi tentar de verdade e assumi que boa parte da culpa de tudo que não deu certo até agora é minha. Não tenho sido um bom namorado.
- Já é um começo. Apesar de eu não gostar muito de discutir essa história de culpa.
- Eu não fiz muita questão de que desse certo. Há tempos que não fazia. Nunca saí com os amigos dela, como posso cobrar que ela não saia com os meus?
- Isso é uma questão. Ela tava muito bem sábado. Tenho certeza de que se você estivesse lá, estaria se divertindo também.
- Isso sempre foi motivo de discussão pra gente. Acho que preciso mudar a forma que levei muita coisa.
- Bom, sobre "precisar" a gente já conversou. É importante que isso seja natural e não uma forma forçada de você reconquistar uma relação que estava perdendo. Você tem que realmente se divertir com os amigos dela. Ou no mínimo fazer isso de boa vontade, pensando que está só fazendo o que quer que ela faça por você também. E é bom que vocês conversem. Senta, discute as novas regras e se empenha pra que dê certo.
- Eu vou me dedicar mais e se dessa vez não der certo é porque não era pra dar mesmo.
- Amigo, tem quase sete anos que vocês estão juntos. Não tem como dizer que não deu certo. Não deu o que você queria que desse, talvez não tenha sido da forma que você gostaria que fosse, mas em algum aspecto deu certo. Tem que ter dado. Caso contrário vocês não suportariam a presença um do outro.
- A gente se gosta muito. Isso é o principal.
- Mas não é tudo, não é?
- É...parece que nunca é suficiente. Parece que a gente sempre cria uma barreira pro que deveria ser perfeito. É só tudo estar dando certo pra aparecer um problema.
- É porque a gente cria de verdade.
- E porque talvez não exista perfeição.
- Amigo, essa vida de pegação é uma delícia. Amigos, bares, noites e mulheres. Tudo faz bem pro ego e nos dá boas histórias pra contar, mas você sabe tanto quanto eu que nada paga ter alguém do seu lado. Alguém em quem você confie pra deitar no ombro, que você goste de rir junto. Alguém que te faça sorrir só de aparecer na sua frente. Não tem curtição que valha um bom relacionamento.
- Estamos todos ficando velhos, né?
- E mesmo assim, ainda novos demais pra achar que qualquer coisa que nos aconteça agora seja pra sempre.
- Não sei se quero que seja pra sempre.
- Nem eu. Pra sempre é tempo demais. Não sei onde eu vou estar daqui há um ano. Não tenho como saber quem ainda vai estar me acompanhando.
- Eu sei que vou me empenhar pra fazer tudo certo dessa vez.
- E eu vou estar torcendo daqui. Mas se daqui há um ano o nosso papo for outro, meu ombro continua um lugar onde você pode deitar, ok?
- Sabe o que é pra sempre? Isso.
- E isso eu sei que quero pra sempre. Te amo, amigo.
- Também te amo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

disposição

- Eu queria saber se vale a pena.
- Vale a pena o quê?
- Ter paciência.
- Paciência é uma virtude, minha filha.
- Pois é. E é a primeira vez que eu tenho sem precisar me esforçar. É como se eu já soubesse as coisas que poderiam acontecer e, mesmo assim, tivesse escolhido esse caminho. Pode parecer estranho, eu fiquei triste, mas não fiquei chateada com ela. E continuei disposta a manter tudo como estava.
- Ela te faz bem?
- Bastante.
- Então você já sabe a resposta.
- O maior problema é esperar por uma coisa que pode não chegar nunca. se ela não gosta de mim até hoje, por que iria começar a gostar de agora em diante?
- O problema de vocês é não entender como o Tempo funciona. Pare de contar os dias. Vocês precisam aprender a namorar. Namoro não tem nada a ver com paixão, não tem nada a ver com sexo.
- Eu tava aprendendo bem isso agora.
- Estava mesmo. Estava indo muito bem. É só continuar entendo as coisas desse jeito.
- Engraçado como aparece alguém assim, de repente, com quem eu não alimentava qualquer tipo de expectativa e me faz entender um monte de coisas pela primeira vez.
- Talvez porque seja a primeira vez que você começa uma relação sabendo bem o que você quer dela. Você já sabia o que precisaria enfrentar e superar e se dispôs a aprender com situações novas. Isso é amadurecimento.
- Não me senti nada madura quando liguei pra ela hoje à tarde.
- Você não fez mal.E sabe tanto quanto eu que precisa ter certeza das coisas pra conseguir se levantar e continuar. Não gosto é de saber que vocês todos têm andado muito submissos.Que não entendem a diferença de ter alguém para dividir as coisas da vida e ter alguém por quem vocês tenham fogo. Você nunca vai ter a posse de alguém. Não deixe que alguém te possua.
- Acabei descobrindo que já estava mais envolvida do que eu mesma imaginava. Me perdi no que eu sinto nesses últimos dias.
- Você entende bem certas coisas, minha filha. Te faz bem? Você quer de volta ao seu lado?
- Muito.
- Então não se torne alguém de quem ela não suporte a presença. Vá viver sua vida. As pessoas só nos amam se nós nos amarmos primeiro. Tenha paciência, saia com outras pessoas também, tenha outras experiências. Se ela for boa pra você de verdade, tanto quanto nós sabemos que você pode ser boa pra ela, no tempo certo as coisas se arrumam.
- Ou não, né?
- Pense no que você quer. Não se esqueça nunca de quem você é. Olha pro céu. Só ele é seu limite. Você merece alguém que entenda isso também.Você pode conquistar tudo o que quiser. Basta querer de verdade.
- Vir aqui sempre me faz um bem enorme. Eu gosto dela. Bem mais do que eu mesma imaginava; mas sei também que não posso cobrar que alguém retribua os meus sentimentos. É a primeira vez que me sinto assim e não é uma sensação nada boa. Não quero outra pessoa agora e não estou com a menor vontade de sair por aí caçando ninguém. Pode ser um bom momento pra refletir melhor sobre uma porção de coisas. E só o Tempo sabe quanto tempo eu vou precisar pra conseguir me envolver com alguém novamente.
- Não se afobe. Dê tempo e espaço às coisas. Quando você menos esperar, tudo se inverte, como num espelho.

sábado, 11 de julho de 2009

sinceridades

- Tem tanta gente bonita aqui hoje, né?
- É. Tem sim. Pessoas que eu nunca tinha visto e bem bonitas.
- Mas a senhorita se cuide, viu?
- Tô me cuidando. Não vou fazer isso com ela. Primeiro porque não tenho vontade, segundo porque sei que seria um desastre. Acho que ela não ficaria com mulher nunca mais.
- Isso é verdade. Mas você sabe que ela vai te trair, né?
- ...
- Você é mais madura, mais forte e se meteu nisso sabendo de tudo que poderia acontecer. Você sabe tanto quanto eu que mais cedo ou mais tarde ela vai te trair, não sabe?
- ...
- Amiga, eu te amo. Não tô falando isso pra te fazer se sentir mal. Mas acho plausível que você se prepare psicologicamente pra isso.
- Tenho me preparado pra tanta coisa. Vou deixando tudo ir e tudo tem ido bem. Mas não gosto de surpresas e, com ela, sinto que posso ter uma a qualquer momento.
- Isso se chama insegurança.
- Eu sei. Confio, mas não me sinto totalmente segura mesmo.
- Bom, espero que você não se machuque muito.
- Eu também.
- Soube que ela tá bem com você também. Tá feliz. Tá se sentindo mais a vontade pra lidar com essas coisas todas que sempre confundiram ela. Ficamos todos felizes com o domingo, acho que fez bem pra ela também. Ela gosta de você.
- Que bom, porque eu não sei gostar sozinha.

terça-feira, 16 de junho de 2009

são tomé

Certo dia, um homem caminhava nos arredores de uma mata, quando encontrou um duende.

- Bom dia! O que fazes por aqui?
- Estou andando um pouco, pensando na vida.
- E você tem sido bom para ela?
- Para a vida? Oras, ela é que deveria ser melhor para mim.
- E já não é boa o suficiente?
- Em determinados pontos sim. Tenho saúde, tenho amigos, tenho uma casa.
- E ainda assim caminha para pensar nela, para questioná-la.
- Tenho problemas financeiros, problemas no trabalho, problemas com um irmão...
- É feliz?
- Algumas vezes.
- Pois saiba que felicidade é estado de espírito e não humor. Feliz ou você é ou nunca foi. E se ainda não foi é porque não parou para sentir a vida, ao invés de pensá-la. Essas alegrias que você sentiu e pensou serem "felicidades" só te ocorrem se você estiver disposto a tê-las. Pode-se ficar alegre com um simples sorriso, com o canto de um pássaro, com o barulho da chuva batendo na sua janela. Um problema, uma briga, uma discussão podem se transformar em inúmeras coisas, boas ou ruins. Basta você mudar o foco. Ajuste suas lentes e verá que muito do que te ocorre é pura invenção de seus pensamentos. A mente desfoca os sentidos. Há coisas que não devem ser racionalizadas e ficam muito mais bonitas assim: sendo simplesmente sentidas.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

gerações

- Me deixa ver sua tatuagem nova.
- É nas costas.
- Vai parar com isso, né?
- Não. Ainda faltam cinco. Quero ter sete.
- Pra quê isso?
- Porque eu gosto. Acho bonito.
- Não vejo nenhuma graça.
- Se eu tivesse dezesseis anos e precisasse da sua autorização, talvez desse mais ouvido ao que você está dizendo agora.
- Você está estragando seu corpo.
- Meu corpo é a única coisa que é minha de verdade, que vai sempre ser. Ainda faço com ele o que quiser.


- Você precisa se vestir melhor. Essas roupas que você usa, o jeito que você anda. Está se estereotipando demais.
- Mãe, acho que existe uma distância muito grande entre o que você gostaria que eu fosse e o que eu realmente sou.
- É. Existe mesmo.
- Às vezes, acho que você preferia que eu fosse uma dessas meninas "periguetes", que saem dando pra um cara por dia, escolhendo os namorados pelo dinheiro que eles tem na carteira.
- Não sei. Talvez.
- Excelente. Tudo que eu precisava ouvir.
- Só queria que você fosse diferente.
- Mas não sou.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

o contrário do amor

- Eu quero que você vá embora hoje.
- Eu não vou.
- Eu não estou pedindo.
- Não tenho pra onde ir. Não vou sair da minha casa sem ter pra onde ir.
- Você não está na sua casa. E eu quero que você vá embora hoje.
- Não tem a mínima condição. No fim de semana eu arrumo um lugar pra ficar e depois venho aqui buscar minhas coisas.
- Nem mais um dia. Não quero ter que te olhar nem mais um dia. Levanta, pega suas coisas e vai embora.
- Eu já disse que não vou.
- Então as suas coisas vão sozinhas. Eu mesma arrumo tudo nas malas e boto num taxi.
- Você não vai fazer isso. Eu sei que não vai. Você é covarde. E você me ama ainda. Ainda tem esperanças de que dê tudo certo com a gente.
- Minhas esperanças já acabaram faz tempo. Tem três meses que eu não te encosto. Eu tenho nojo de você. E você vai embora hoje.
- Pára de fazer cena, porque você sabe que eu não vou sair daqui no meio da noite.
- Sabe, eu não sei como pude ser tão otária. E tanta gente me avisou, tanta gente tentou abrir meus olhos. Como que você pôde? Como teve coragem? Tudo isso que eu descobri agora é muito pior que traição. É muito pior do que se você tivesse outra pessoa.
- Você pode falar o que quiser. Suas palavras não me afetam. Você me ama. Só está com raiva.
- Eu não te amo, nem te odeio mais. Tem me doído muito pensar no tempo e no dinheiro que eu perdi com você e guardo muito rancor do que você fez, mas não te odeio. Eu simplesmente não me importo mais. Se você tiver que dormir na rua hoje, eu não me importo. O dinheiro que você tem no banco paga uma boa suíte em um bom hotel. Eu não pago mais a conta de luz do seu banho. Nunca mais. Levanta e sai, agora. Tem um taxi parado lá embaixo. Tem duas malas de roupa sua dentro dele. É o suficiente pra você passar o resto da semana. No fim de semana eu te ligo e te falo que horas você pode passar aqui pra pegar o resto.
- Eu ajudei a escolher tudo que tem dentro dessa casa. Escolhi as cores das paredes...
- E eu paguei por tudo que você escolheu. É tudo meu. Me entrega suas chaves, desce e vai embora agora.
- Eu não vou sair da sua vida assim.
- Lamento, mas você já saiu.

domingo, 7 de junho de 2009

solitárias

- Alô? Alô?
- Mãe!!!!
- Alô? Quem tá falando?
- Minha senhora, a parada é a seguinte, a gente tá com a sua filha. Vai fazer o que eu mandar e a gente libera ela.
- Com a minha filha?
- É, com a sua filha e vamo passar ela se a senhora não fizer tudo direitinho.
- Ô meu querido, pode levar pra você.
- O QUÊ?!!!
- É meu filho, pode levar ela pra você. Sabe, essa menina me dá muito trabalho. É bom que assim ela começa a dar mais valor pra vida.
- Minha senhora, a gente não tá de brincadeira!
- Meu filho, vou te dar um conselho então: você toma cuidado aí, porque se os homens te pegam, te tomam o celular, te dão uma surra e te jogam na solitária por uma semana. Além disso aumentar sua pena. Não precisa correr esse risco, não.
- Como é que é? A senhora tá de sacanagem com a minha cara? Eu vou botar sua filha na linha novamente e...
- Faz uma coisa, menino. Me dá o endereço daí. Sabe, eu sou tão sozinha. Posso ir te visitar, tomar um café, te levar uns cigarros.
- tu tu tu
- Gente louca.

mesa de bar

- Toma mais uma cerveja comigo?
- Só uma, tá? Preciso encontrar com ela.
- Precisa?
- Preciso. Brigamos ontem. Já não quero mais. Mas descobri que eu não sei terminar uma relação.
- É... a gente se acostuma.
- É puro costume mesmo. Porque fiquei um mês sem ver, sem falar direito e sem sentir a mínima falta. Daí a gente se encontra depois de um mês e só sai briga.
- Acho que você precisa resolver isso logo, porque tem uma grande tendência a você começar a "cagar" tudo no final.
- Meu medo é de já ter entrado nessa fase. Quase fui pra casa daquelas meninas hoje.
- Eu percebi.
- E já traí ela duas vezes.
- Amigo, resolve isso de uma vez. Vai ser melhor pra você. Até porque, da última vez que vocês entraram nessa de se sacanear, não deu certo. E você acabou sofrendo também. Não deve ser nada agradável ver ela com outro cara, não é?
- Não. Não é nada agradável. Na hora que terminar, eu não quero ver a cara dela mais. O que torna tudo mais difícil é que eu sei que vou chegar na casa dela agora, no meio da madrugada, depois de quatro tequilas e umas cervejinhas e ela vai falar e falar e falar e eu vou ouvir e ouvir e ouvir. Depois disso é bem capaz que a gente acabe transando.
- Ah...mas aí complica tudo, né?
- Tudo.
- Não vai terminar nunca desse jeito.
- Por isso que eu disse que não sei terminar uma relação.
- Talvez ainda falte você ter certeza de que é isso mesmo que você quer.
- Pensei muito na nossa conversa daquele dia. Você sempre me ajuda a pensar melhor sobre certas coisas.
- Amo você. Quero te ver bem sempre. E preciso de mais uma cerveja.
- Você quer a chave lá de casa?
- Não precisa. Acho que ela nem vai falar direito comigo.
- Ela não pára de olhar pra cá.
- Não sei se devo.
- Aí eu te falo a mesma coisa que você me disse agora. Precisa saber o que você quer.
- Esse precisar que me incomoda.
- Amiga, quer saber? Precisa coisa nenhuma. Vai e faz o que te der vontade. Você sempre foi assim, duvido que mude muito agora. Se essa conversa tivesse rolando quando nós tínhamos quinze anos, era bem capaz de eu te aconselhar a tentar ser mais racional, pensar mais antes de agir. Mas você é assim desde sempre. Filosofa sobre tudo e no fim, vai lá e faz só o que te dá vontade. E não acho que você esteja errada, não. Pelo que eu vejo, você acaba conseguindo o que quer. Mesmo que de um jeito meio estranho. As coisas simplesmente acontecem.
- É, as coisas acontecem.
- Queria essa conversa e essa cerveja até de manhã.
- Eu também.
- Mas preciso ir. Preciso resolver essa história de uma vez.
- Amigo, quer saber? Precisa nada. Vai lá e faz o que te der vontade.

no meio do caminho

- Por que a gente tem tanto assunto? Seria tão mais fácil se o papo não fluísse.
- É verdade. Ontem parei pra pensar: "mais de uma semana já, até que eu tô indo bem", daí fiz as contas e vi que só faziam quatro dias. Acho que eu não tava indo tão bem assim.
- Senti sua falta também. Mas fiquei bem. E não quis te procurar, mesmo querendo te ver.
- Não adianta, né? A gente acaba não fugindo totalmente, continua frequentando alguns lugares. Apesar de que eu achei que você não trabalhasse lá mais. Não passaria por aqui a essa hora.
- Eu passaria direto sem te ver, se não tivesse parado pra falar com os meninos.
- É sempre assim. Tem sempre um se no meio do caminho. Tem sempre você no meio do meu caminho.
- Quer que eu vá embora?
- Não.
- Talvez se a concepção do caminho mudar, eu posso deixar de estar no meio pra estar ao lado. Mas isso são escolhas que só você pode fazer. E que é melhor deixar pro momento certo, porque eu ainda tenho me questionado também se quero estar ao lado de alguém agora.
- Sabe, mulher tem uma facilidade muito grande de dizer que ama num dia e no outro já estar amando outra pessoa. Acho que estou bem desacreditada nos sentimentos femininos.
- Eu nunca disse que te amo.
- É, eu sei.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

encanto

- Oi.
- Oi. Tudo bem?
- Tudo sim e você?
- Tudo bem também.
- Não esperava te ver aqui.
- É, nem eu.
- Eu sou amiga do Lucas, do violão.
- Ah, sim. E eu sou amiga do Thiago da bateria.
- A gente tem mais pessoas em comum do que imaginava, né? Sabia que ia acabar te encontrando assim, sem combinar nada, mas não esperava que fosse tão rápido.
- A cidade é pequena. Também imaginava que fosse te encontrar qualquer dia.
- A banda é boa, né?
- É sim. Adoro.
- Primeiro show deles que eu vejo.

O meu pensamento tem a cor do seu vestido
ou um girassol que tem a cor do seu cabelo

- Vou buscar uma cerveja.
- Também vou.

Minha carne é de carnaval
meu coração é igual

- Adoro essas músicas.
- Também. Achei que você tivesse viajado.
- Eu ia. Mas minha família toda foi. Achei melhor ficar sozinha um pouco.
- Você tá sozinha?
- Tô.

Tô com sintomas de saudade
Tô pensando em você
E como eu te quero tanto bem

- Vou te levar comigo hoje.
- Pra onde?
- Pra onde você quiser.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

algumas coisas nunca mudam

- Mas você tá bem?
- Tô.
- Na vida? Tá tudo bem?
- Tá sim.
- Então, tá bom. Quero que você saiba que independente de qualquer coisa, eu me preocupo com você.
- Eu não misturo minhas relações. O que eu sinto por você, a amizade que eu tenho com você, nunca vai mudar porque outra relação minha tenha mudado.
- Que bom. Fico feliz.
- Eu estaria melhor se estivesse com ela. Gosto dela. Mas eu não fiquei mal em nenhum momento. Algumas coisas são difíceis, mas a vida não é pra ser fácil. E isso não quer dizer que eu tenha sofrido.
- Não ficou mal?
- Não. Nisso tudo eu só lamento de estar perdendo uma amizade. Ou já ter perdido, eu acho.
- Ela falou comigo sobre isso.
- Muita coisa aconteceu e durante algum tempo eu acreditei de verdade numa relação de amizade entre a gente. Mas descobri o que qualquer adolescente sabe: não se tem como ser amigo de alguém que é apaixonado por você. Ou dará problema enquanto durar a paixão, ou quando ela terminar.
- É complicado mesmo.
- Sei que a magoei em situações em que isso não teria acontecido, caso ela fosse só minha amiga mesmo. E não vi isso na época. Hoje, eu vejo. E vejo como já não dá mais para tentar manter uma amizade. Uma amizade que nunca foi o que se propôs a ser.
- Eu sempre achei a relação de vocês muito bacana.
- Eu também. Mas essa coisa de relação é a gente que inventa. A gente inventa intimidade, inventa amor, inventa tudo. É ruim entender as coisas desse jeito. Mas a gente inventa também o que sente. E, às vezes, alimenta situações que não têm como se sustentar. A verdade é um jogo. Vi essa frase no trailler de um filme.
- Mas vocês sempre jogaram tão aberto.
- Mas uma relação muito aberta é o tipo mais perigoso de relação. Porque qualquer coisa que não seja tão sincera assim, vira uma traição.
- É complicado.
- É a gente que complica.
- Só quero reafirmar que nada muda entre a gente. Eu não vou tomar partido de ninguém e prefiro não saber de certos detalhes. Me sinto mal quando ouço falarem mal de você.
- Relaxa. Já me acostumei a ser assim. Mas as pessoas que me amam são suficientes. E o amor que eu dedico a elas vai ser sempre suficiente pra me manter de pé.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

no ônibus

- Ê mãe, hein? Eu vi.
- Viu o quê, menino?
- Eu vi você...
- Me viu fazendo o quê?
- Han, você sabe que eu vi...
- Menino, cê fala cada coisa. Tem horas que eu nem te entendo.

(...)

- Mãe, por que se chama pelinha?
- Porque é pele, meu filho. Pele frita.
- Pele de quê?
- Pele de porco.
- De porco novinho?
- É, talvez.
- Mãe, eu quero ter um porco novinho.
- Pra quê? Vai tirar a pele dele pra fritar?
- Não mãe...um porco novinho, desses pequenininhos.
- E o que você vai fazer com um porco?!
- Dar carinho.
- Arthur, você não quer um gatinho, então?
- Não, mãe. Um Porquinho.
- Meu filho, te dou um cachorro, um gatinho, um bichinho bonitinho.
- Mãe, eu quero um porquinho. Assim, bem pequenininho. E um porquinho pequenininho é mais bonitinho que um gatinho ou um cachorro.
- Filho, mas o porquinho vai crescer e vai virar um porcão. E vai fazer maior sugeirada e vai fazer um barulho estranho, pior que latido de cachorro ou miado de gato.
- Mas é que eu quero um porquinho pequenininho, que fique pra sempre pequenininho. Um porquinho e um coelho.
- Acho melhor eu mudar pra roça.

terça-feira, 2 de junho de 2009

incidentes

- Bom dia, amor!
- Bom dia.
- Nem te vi levantar. Já está indo?
- Tenho que ir, meu anjo. Meu vôo sai às sete.
- Promete que vai voltar logo?
- Eu te amo. Volto assim que resolver tudo por lá. Uns cinco ou seis dias devem ser suficientes.
- Vou sentir saudades. Acho que vou te levar no aeroporto.
- Amor, não precisa. Além do mais, você ainda precisa se arrumar, vai acabar me atrasando.
- Quero ficar com você mais um pouquinho. Você podia trocar seu vôo pra mais tarde e a gente aproveitava minha folga juntos.
- Meu anjo, - beijou-lhe a testa - eu volto em menos de uma semana. Já ficamos separados muito mais tempo que isso. Eu te amo. Torce pra dar tudo certo o mais rápido possível.
- Vou torcer. Me liga quando chegar?
- Te ligo do aeroporto, tá bem? Agora volta a dormir. Aproveita sua folga para descansar. Você trabalhou até tarde ontem.
- Verdade. Eu não dormi muito bem essa noite. Tive sonhos estranhos. Acho que não vou sair da cama o dia inteiro.
- Bom, já vou. Te trago um perfume de presente.
- Meu maior presente é ver você voltar.
Beijaram-se.
- Eu te amo.
- Eu também te amo.


(...)


Amor, você deve estar dormindo, porque não atendeu o telefone. Presta atenção: Eu te amo! Sempre te amei! Nunca quis estar longe. Desculpa minha ausência em tantas viagens. Eu te amo! Está acontecendo alguma coisa com o avião. Não sei o que é. Estamos passando por uma turbulência muito forte. Estão nos mandando pôr os cintos e as máscaras de oxigênio caíram. Eu te amo! Pra sempre. Acho que não vou poder levar o seu presente.

o que sobra

- Então é isso?
- É.
- Posso ir agora?
- Ainda não.
- Não vejo certeza nos seus olhos. Não me passa que esteja seguro da sua decisão.
- É que você me faz bem. Me faz muito bem.
- E mesmo assim prefere não me ter.
- É. Estranho, né? Mas é isso.
- É...estranho.
- Você... Eu... Não queria te ver sofrer.
- Não estou sofrendo. É uma pena que não dê certo, porque eu estava me apaixonando. Mas sofrer exatamente, não. Não vou sofrer.
- Me sinto melhor assim. É a primeira vez que sei estar sendo egoísta sem carregar nenhum peso por isso. Eu me preocupo com você, mas me preocupo mais comigo agora.
- Eu sei. E não te julgo mal por isso, porque eu sempre fui assim.
- Eu quero ficar bem.
- Eu quero que você esteja bem. Posso ir agora?
- Eu não quero te prender. Mas gostaria de te ter por mais cinco minutos.
- Acho arriscado.
- Por quê?
- Porque você pode mudar sua decisão e eu já estou conseguindo lidar melhor com ela agora, se isso mudar, eu não sei mais.
- Só mais cinco minutinhos?
- Por quê?
- Pra guardar em mim o seu sorriso e o seu jeito. Depois, pode ir.

Sorriu.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

nostalgias

- Por que você veio? Por que está aqui?
- Porque eu te amo.
- E não amava há um ano atrás?
- Sempre te amei.
- O quê faltou, então?
- Eu não sei. Maturidade, talvez.
- Você me fez falta. Mais no início, muito pouco nos últimos tempos, mas sempre fez falta.
- Senti sua falta também. Mas aos poucos aprendi a lidar com isso.
- Por que você foi embora?
- Eu precisava.
- Precisava ficar longe de mim? Mas não me amava?
- Sempre te amei. Mas precisava ficar longe de mim.
- E por isso se afastou? Não acho justo. Não foi justo com o que a gente já tinha construído, com o que a gente sentia.
- O mundo não é justo.
- E por que precisava fugir de si mesmo? O que aconteceu?
- Muita coisa acontece o tempo todo. Nossas expectativas somos nós que criamos. Eu precisava aprender a lidar com as minhas. Precisava aprender a lidar com as minhas frustrações.
- Não teve medo de me perder?
- Tive. Muito.
- Isso quase aconteceu. Aconteceu por um período, poderia ter sido pra sempre.
- Eu sei. Também te perdi em mim por um tempo. Te perdi no mundo por um ano. Tive medo de te perder pra sempre. Mas fui embora exatamente pra aprender a lidar com os meus medos. Pra deixar de ser um covarde.
- Você está bem? Vai ficar bem?
- Agora, eu tô. Mas preciso que essa semana acabe para saber se vou ficar. Você está bem?
- Eu não sei. Nosso sexo sempre foi ótimo, seu carinho sempre me fez bem. Mas preciso que esse dia acabe para saber se estou. O mundo não é justo mesmo, não é?
- É. Não há nada de justo. Nós não somos justos. Talvez nem devamos ser.
- Tenho medo de você ter mudado muito.
- Mudei. Certamente. Mas você também.
- É...mudei um bocado. A gente vai crescendo, algumas coisas acontecem...
- Nós esfriamos. Saímos enfim da adolescência e esfriamos.
- Tenho medo de termos mudado tanto que esse amor não caiba mais.
- Talvez esteja na sua hora de ir embora. Pra aprender a lidar com os seus medos.
- Talvez.
- ...
- O mundo não é justo mesmo, não é? Você precisou voltar pra me dizer isso.
- É por isso que eu vim. Por isso que estou aqui.
- Vou buscar um café.